“Nos últimos 20 anos, 40 bilhões foram cortados da saúde pública, dissemos ao ministro da Saúde que queríamos mudar de rumo. É hora de dizer basta. Estávamos cansados. Chega de cortes na saúde, filas de espera intermináveis, precariedade. É hora de mudar.” O ataque de Maurizio Landini, secretário da CGIL, vem do palco montado na Piazza del Popolo, último palco da manifestação de ontem em Roma “Juntos pela Constituição. Artigo 32 Saúde, direito fundamental da indivíduos e comunidades”. Não há dúvida de que a saúde pública sofreu cortes nos últimos anos. Landini tem razão, ainda que os números, divulgados em minucioso estudo da Fundação Gimbe sobre a década 2010-2019, não sejam exatamente os informados pelo secretário. Segundo o relatório Gimbe, o grupo italiano de medicina baseada em evidências, nos últimos 10 anos, os fundos públicos de saúde sofreram cortes de 37 bilhões de euros. Pior que nós só Grécia, Espanha e Portugal. O fato é que, olhando mais de perto, nos últimos dez anos, com exceção de um ano do governo de Berlusconi IV, os governos se sucederam: Monti, Letta, Renzi, Gentiloni, Conte I e Conte II. Na prática, de seis governos, cinco referem-se ao Partido Democrata e ao Cinco Estrelas. Surge então a questão: contra quem exatamente Conte e Schlein protestavam na praça? Sim, porque durante a manifestação da CGIL, o líder Cinco Estrelas e o secretário do DEM voltaram a se reunir com uma delegação na qual estavam, entre outros, também: Beatrice Lorenzin, Ministra da Saúde dos governos Letta, Renzi e Gentiloni, Roberto Speranza, Ministra da Saúde nos governos Conte e Draghi, Sandra Zampa que ocupou o cargo de subsecretária do Ministério da Saúde no governo Conte.
Todos os personagens que, mais ou menos, tiveram acesso à “sala de botões” na área da saúde. Se eles estão protestando corretamente contra os cortes agora, é de se perguntar por que eles não fizeram nada quando podiam. Até porque as ideias do que fazer e como fazer parecem claras. Lorenzin ilustrou a receita na praça: “Precisamos de pelo menos 5 bilhões estruturais para o Fundo Nacional de Saúde, para financiar o sistema e reformá-lo, reformar a força de trabalho da saúde, garantir salários adequados e a qualidade da profissão, reformar a medicina no território e implementar integralmente o Pnrr, garantir o acesso às terapêuticas, reformar o planeamento e prevenção da saúde e sobretudo eliminar todas as insuportáveis desigualdades sanitárias entre Norte e Sul”. Ok, mas então por que ele não fez isso quando estava no Ministério? Talvez porque, na verdade, a base dos cortes não sejam escolhas políticas que direcionaram os recursos para outros setores, mas a necessidade de “apertar o cinto” em um país onde a estagnação da riqueza global produziu redução dos recursos disponíveis. Quem sabe os dems ausentes da praça hoje não tenham decidido evitar a praça justamente por saberem do risco de se encontrarem protestando contra o que não foi feito, mesmo por eles.
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