A cada eleição, repetem-se sempre os discursos habituais: “os abstencionistas são o primeiro partido”; “Cresce o desafeto pela política”; “Precisamos poder falar com os muitos eleitores que pararam de votar” e assim por diante.
Surgem assim os apelos ao voto em nome da participação e da democracia. E lembre-se dos bons tempos em que mais de 90% dos eleitores foram às urnas. É claro que o direito ao eleitorado ativo e passivo é fundamental para qualquer ordem civil e democrática. E a história está aí para mostrar que os direitos são defendidos pelo seu exercício. O “desencanto” existe e é difundido; e é determinado por razões muito específicas como o declínio das ideologias, a propagação do vírus da antipolítica, usada como “continuação da política por outros meios”, a má qualidade da chamada política de classe, que, por à conjunção de sua insuficiência e das campanhas de hostilidade de que é objeto, precipitadas nas últimas rodadas de credibilidade.
Tornou-se tão gratificante “se machucar” que os aspectos técnicos da votação geralmente são negligenciados. Por exemplo, não foi apenas a paixão política que levou 90% do eleitorado às urnas, mas também uma regra – revogada em 1992 – que estabelecia que as palavras “não votou” fossem escritas em atestados de boa conduta durante os cinco período do ano”, mais ao seu “sentimento”; as investigações sociológicas aprofundaram e classificaram as possíveis causas, com questões interessantes a considerar antes de se aventurar na terra de ninguém da percepção.
Vale a pena relatar um dossiê de abstenção recentemente publicado pela Universidade IULM de Milão em referência às próximas eleições políticas. O documento, depois de analisar pesquisas de opinião de vários Centros e Institutos, conclui com a previsão técnica de abstenção dentro de uma faixa fluida de 35-45%. A possibilidade de contenção ou ampliação é identificada na relação com o eleitorado de jovens de 18 a 25 anos, no que diz respeito não apenas às coortes que vão votar pela primeira vez, mas também ao alinhamento aos 18 para a eleição do Senado.
O arquivo agrupa os diferentes tipos de não votação da seguinte forma:
– uma abstenção técnico-eleitoral, causada por problemas de organização, logística e regularidade dos documentos necessários à votação, entre os quais emerge o problema do “off-site”;
– abstenção fisiológica, causada por motivos pessoais ligados à saúde do titular do direito de voto que opte por não votar por motivos pessoais;
– uma abstenção de não integração, determinada pela legislação sobre cidadania que diz respeito a jovens potenciais eleitores nascidos em Itália mas não legitimados;
– Abstenção por desconfiança e contestação, causada pela falta de confiança na política, no poder de decisão do indivíduo, não vendo as questões julgadas relevantes resolvidas pelos eleitos.
Consequentemente, o crescimento da abstenção deve referir-se essencialmente à soma das causas individuais, das quais a desconfiança/protesto parece ser a mais importante. De qualquer forma, alguns aspectos técnico-burocráticos também devem ser considerados de forma crítica devido à persistência de problemas relatados há algum tempo, mas não resolvidos, como o dos eleitores “fora do cargo” (5 milhões de cidadãos) para os quais não há intervenções planejado para este ano. proteger o seu direito de voto.
Outro elemento importante é atribuído à crise partidária que levou ao colapso da participação. Em termos de eleições políticas entre as de 1994 e as de 2018, a participação caiu quase quatorze pontos percentuais. Ao nível das eleições europeias, caiu mais e é o mesmo nos níveis mais baixos. O Dossiê refere-se então a um verdadeiro Livro Branco elaborado por uma Comissão “Para a participação cidadã: como reduzir a abstenção e facilitar a votação”. Avanço da Comissão de Peritos, coordenada por Franco Bassani, e criado em 22 de dezembro de 2021 por despacho do Ministro responsável pelas relações com o Parlamento encarregado das reformas institucionais Frederico D’Incaque, em entrevista a investigadores do IULM, fez o balanço da abstenção involuntária, aquela que depende da dificuldade e impedimentos materiais para chegar à assembleia de voto.
Vejamos os números: 4,2 milhões de idosos com mais de 65 anos têm dificuldades de locomoção (9% dos eleitores). Entre eles, 2,8 milhões (ou 6% dos eleitores) têm sérias dificuldades para se locomover. Por exemplo, entre as pessoas com mais de 85 anos, a abstenção ultrapassa os 62%. Para as mulheres, há mais abstenção, chegando a 68,5% na faixa etária de mais de 85 anos. Além disso, estima-se que 4,9 milhões de eleitores exerçam a sua atividade profissional ou frequentam cursos escolares ou universitários fora da província ou área metropolitana de residência (ou seja, 10% dos eleitores). Destes, 1,9 milhão (ou 4% dos eleitores) são aqueles que levariam mais de 4 horas (ida e volta) para retornar ao seu local de residência pela rede rodoviária.
As medidas propostas pelo Livro Branco poderão assim simplificar e facilitar a participação de mais de 9 milhões de cidadãos, ou cerca de 20% dos eleitores, reduzindo a percentagem dos que não participam na votação. Estima-se que nas eleições europeias os abstêmios involuntários, que têm dificuldade e são impedidos de chegar às assembleias de voto, representaram cerca de 16/18% dos eleitores (nas eleições europeias, a abstenção foi de 45,5% dos eleitores). O objetivo é eliminar dificuldades e obstáculos e facilitar a participação desses eleitores. Com que propostas? A pesquisa internacional contida no relatório da Comissão indicou que em quase todas as democracias maduras também foram introduzidas formas inovadoras para facilitar a participação eleitoral.
A análise destas medidas representou o ponto de partida para a elaboração de algumas propostas que o relatório submete à avaliação das autoridades institucionais italianas (Parlamento e Governo). Esses incluem:
• digitalização do mapa e listas eleitorais (mapa eleitoral);
• a concentração dos prazos eleitorais em apenas dois encontros anuais (dia da votação);
• presidir a votação antecipada, o que permitiria aos eleitores que esperem ter dificuldade em chegar à assembleia de voto nos dias previstos para o escrutínio, possam exercer o seu direito de voto nos dias que antecedem a eleição em qualquer parte do território nacional , com as garantias típicas do procedimento eleitoral tradicional;
• votar, no dia da votação, em lugares diferentes do seu, mas situados no mesmo círculo eleitoral ou círculo eleitoral;
• a implementação de medidas de informação e comunicação;
• Identificar locais alternativos aos edifícios escolares para as assembleias de voto.
No âmbito do referido Livro Branco, reveste-se de particular importância a análise das experiências de outros países, que fornece uma base de conhecimento extremamente interessante, também para efeitos de elaboração de propostas. O inquérito internacional permitiu identificar modelos e ferramentas úteis para eliminar os obstáculos à participação no voto, intervindo sobre os factores que estão na origem do fenómeno da abstenção involuntária (pessoas que, por motivos de estudo e trabalho, vivem num local diferente do seu local de residência; idosos, deficientes, etc.). Além disso, no âmbito do inquérito, é dada especial atenção aos instrumentos de comunicação, campanhas de informação e outras medidas de incentivo à participação no voto.
A pesquisa internacional abrangeu 19 países: Austrália, Áustria, Bélgica, Canadá, Estônia, Dinamarca, França, Alemanha, Irlanda, Noruega, Holanda, Portugal, Reino Unido, República Tcheca, Eslováquia, Espanha, Estados Unidos, Suécia, Suíça. Com base nessas investigações, a Comissão Bassanini (que emitiu o relatório final em abril passado) preparou fichas técnicas sobre:
– Tabela sinóptica de métodos de votação
– Votação por procuração
– Votação eletrônica
– Voto por correspondência
– Votação antecipada tripulada
– Votar numa assembleia de voto diferente da de residência no dia da votação
– Votar para deficientes, doentes e idosos
– Listas eleitorais, comprovativo do estatuto de eleitor e digitalização
– Medidas de informação e promoção
– Edifícios utilizados como assembleias de voto.
Basicamente, sem ignorar a influência de fatores de crise política, o descontentamento do eleitorado, o colapso da participação, o desaparecimento dos partidos como força organizada presente no território, certas medidas destinadas a facilitar o exercício do direito de voto poderiam ajudar a reduzir a abstenção, especialmente quando é involuntário.
O relatório estava sob análise das Comissões de Assuntos Constitucionais e lá permaneceu. Vemos que é muito mais gratificante – como em tantas outras circunstâncias – sentir pena do próprio destino, do que prever um nível normativo e processual para melhor garantir o exercício de um direito. O dano causado a um cidadão que gostaria de votar, mas que falha por causa dos obstáculos que o impedem de fazê-lo, é gravíssimo.
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