O episódio
No início da terceira volta do Grande Prémio de Portugal Marc Márquez cometeu um erro de avaliação num ponto muito perigoso, nomeadamente o hairpin da Curva-3, o ponto mais lento da pista de Portimão. O oito vezes campeão mundial, que decidiu correr com o pneu de borracha dura na frente, freou tarde demais, apertou demais o manete do freio e travou. Basicamente Marquez não conseguiu reduzir a velocidade o suficiente com que se aproximou da curva 3 e tentou evitar Jorge Martin e Miguel Oliveira que o ultrapassavam por dentro – ficou então sem alternativa depois de travar desta forma – ao bater na perna do piloto da Ducati (uma fractura para Martinator) e ao bater na Aprilia do português lesionado no tendão da perna. A corrida de Oliveira e Márquez – que sofreu uma fractura exposta do polegar da mão direita – terminou aí, Martin continuou e depois caiu nas fases finais da corrida ao entrar no top 10.
Sentença e Esclarecimento
Marc Marquez foi penalizado com duas voltas longas, uma penalidade que foi definida como “padrão” pelos comissários quando um piloto colide com um adversário fazendo com que ele se retire (Luca Marini não foi sancionado pelo incidente com Enea Bastianini no Sprint, mas a dinâmica foi ligeiramente diferente com o piloto do VR46 que certamente exagerou de uma forma não comparável ao erro cometido por Marquez). Inicialmente, o comunicado da Direcção de Prova assinalava que a penalização tinha de ser cumprida na Argentina, depois na sequência da ausência de Marc Márquez nas Termas de Río Hondo e do erro de ontem ter pronunciado uma penalização tão limitada, aconteceu o esclarecimento de que a penalização tinha ser observado pelo piloto da Honda “no primeiro Grande Prêmio em que participará”.
Razali quer penalidades mais duras
Razlan Razali, chefe de equipe da equipe RNF que colocou em campo Miguel Oliveira, expressou sua decepção com uma sanção descrita como inadequada. Segundo o malaio, os comissários deveriam ter sido mais duros com o Marc Márquez tendo em conta o erro que cometeu e as consequências daí decorrentes, que poderiam ter sido ainda piores se, por exemplo, o Márquez tivesse acertado o Oliveira diretamente na minha perna. Claudio Domenicali (CEO da Ducati) e Massimo Rivola (CEO da Aprilia Racing) já haviam expressado comentários consistentes com os então colocados em preto e branco por Razali.
Compartilhamento por conta MotoGP
O caso Márquez desenrolou-se num contexto já agravado por dois pilotos de MotoGP que se viram eliminados nas jornadas anteriores, ainda que por motivos diferentes. Pol Espargarò vai ficar meses afastado dos circuitos na sequência de uma queda cujas consequências foram agravadas pela gravilha inadequada e pela ausência de barreira de ar no local onde ocorreu o acidente. Já Enea Bastianini foi a primeira “vítima” do formato Sprint ao fraturar a omoplata direita na sequência de uma queda provocada por um erro de Luca Marini. O erro de Márquez eleva para quatro o número total de pilotos da categoria rainha que não vão largar dentro de alguns dias na Argentina. A conta Twitter do MotoGP deu visibilidade ao comunicado da equipa RNF através de um retweet e da publicação no site oficial do comunicado de imprensa, medidas que também podem ser entendidas como pressão da Dorna contra a FIM para que as penalizações sejam efectivamente mais duras na tentativa para levar os pilotos a conselhos mais suaves. A presença de Stefano Domenicali – CEO da Liberty Media no que diz respeito à F1 – não tem passado despercebida em Portugal ao ponto de começarem a circular rumores de que a Liberty Media também estaria interessada em comprar o MotoGP após o sucesso da operação F1. No Cirque FIA e Liberty estão em desacordo, se fosse assim também entre Dorna e FIM Liberty Media herdaria uma situação já conhecida. O esporte e o entretenimento correm mais rápido do que as federações que pretendem regulá-lo. Encontrar um ponto de encontro entre o público, o espetáculo e a técnica não é nada fácil, mas no Mundial os pilotos correm sérios riscos porque seus corpos ficam totalmente expostos. Um pouco de batalha entre a Dorna e a FIM é bem-vinda se o objetivo for salvaguardar o seu principal trunfo, os pilotos, que foram ordenados a partir de 2023 – os do MotoGP – a duplicar as corridas para relançar uma categoria em crise.
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