Quem toma – ou mantém – a Crimeia leva tudo. Em Washington, eles decidiram, a guerra será decidida no verão. Se a contra-ofensiva ucraniana planejada para a primavera for bem-sucedida, a Rússia será efetivamente derrotada. Caso contrário, dado também o crescente cepticismo da opinião pública europeia e americana quanto aos enormes custos do conflito, parte das conquistas territoriais russas terão de ser tratadas e reconhecidas. A verdadeira novidade deste cenário, porém, é o objetivo estratégico de uma contra-ofensiva baseada na reconquista da Crimeia.
Uma meta aprovada, depois de muita hesitação, pelo Pentágono e pela Casa Branca. Por detrás das incertezas escondia-se (e esconde-se) o receio de um recurso às armas nucleares por parte de um Kremlin disposto a tudo para não perder a península. Mas as considerações do Pentágono, da OTAN e dos generais ucranianos, que concordam em excluir a reconquista de Donbass sem a expulsão preventiva dos russos da Crimeia, teriam prevalecido sobre a prudência da Casa Branca. Até porque se os armamentos e as orientações estratégicas garantidas pela OTAN devolverem a península à Ucrânia, o Kremlin terá sérias dificuldades em defender um Donbass cercado por três lados. Uma escolha confirmada pela subsecretária Victoria Nuland que mais uma vez – como em 2014 quando mandou os europeus para o inferno – não desiste de esclarecer os reais objetivos americanos. “Na Crimeia – explicou Nuland no final de fevereiro – existem importantes instalações militares que, nesta guerra, se tornaram áreas de retaguarda e centros logísticos essenciais para os russos. Esses são objetivos legítimos. A Ucrânia os ataca e nós os apoiamos.” Mas atacar a Crimeia significa planejar um avanço complexo e sangrento das defesas russas instaladas na região de Zaporozhye graças à mobilização de trezentos mil homens.
Para fazer isso, os ucranianos devem, como explica Nuland, atacar preventivamente a logística e os depósitos russos na Crimeia. Uma operação que começou há uma semana com o ataque de um drone contra um comboio ferroviário russo carregado com mísseis Kalibr em trânsito de Dzankhoi, cidade da Crimeia a 130 quilômetros das posições de Kiev. Só o sucesso das incursões preventivas às bases da Criméia permitirá o lançamento de uma operação que utilizará tanques ocidentais como aríete e 60.000 soldados ucranianos treinados pela OTAN como força militar. Segundo o ministro da Defesa ucraniano, Oleksii Reznikov, a Ucrânia já recebeu 18 tanques Leopard 2 da Alemanha, três de Portugal e seis da Espanha. Suprimentos que se somam aos blindados britânicos Challenger 2, francês Amx10 e americano e alemão Striker e Merdier.
A verdadeira incógnita, no entanto, continua sendo os homens e as munições. Segundo algumas estimativas, Kiev perdeu pelo menos 120.000 soldados, muitos deles veteranos indispensáveis, em termos de experiência, para uma operação que exige a criação de mais de duzentos quilómetros de linhas logísticas, bem como o rompimento de linhas russas. Mas sem a criação de três novos corpos de exército, Kiev não será capaz de garantir a defesa das linhas atuais e futuras. Para implantá-los, o estado-maior ucraniano terá que contar com 60.000 recrutas treinados em países da OTAN, mas desprovidos de qualquer experiência de combate. Do lado da munição, as incógnitas não são menores. Segundo a OTAN, os três meses de operação exigirão uma disponibilidade diária de 10/15 mil cartuchos de obus. Portanto, o sucesso da ofensiva também dependerá da capacidade dos países europeus de fornecer à Ucrânia o milhão de projéteis de 155 mm prometidos semanas atrás. Uma promessa sobre a qual, dada a disponibilidade militar da União, existem muitas dúvidas.
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