Luiz Inácio Lula da Silva é uma das figuras mais influentes da história brasileira nas últimas décadas. O ex-presidente lançou recentemente sua candidatura às próximas eleições presidenciais marcadas para outubro de 2022 em São Paulo. Aos 76 anos, ele mostrou que ainda tem energia e ambição para voltar ao centro da política brasileira como protagonista. Fundador do Partido dos Trabalhadores, ele concorrerá à presidência pela sexta vez e, com as pesquisas no bolso, também está destinado a vencer o ex-presidente Bolsonaro.
Muitos tendem a subestimar a importância do Brasil nos cenários internacionais, mas o gigante sul-americano representa uma potência regional e continental com grandes ambições em todos os sentidos. Portanto, as eleições de outubro de 2022 representarão um ponto de virada que terá repercussões que irão muito além da América Latina.
Ao lado de Lula estará o ex-governador do estado de São Paulo, Geraldo Alckmin, membro do Partido Socialista Brasileiro (centro-direita) que, em caso de vitória, assumirá o cargo de vice-presidente. A aliança entre Lula e Alckmin aparece como uma tática, já que foram rivais no segundo turno da eleição presidencial de 2006. eleitorado histórico, mas para aumentar sua base eleitoral.
Ainda assim, Lula é o grande favorito para as eleições presidenciais de 2022 e a experiência recente – que o viu preso – reforçou sua imagem, se possível. A diferença pode ser feita por sua experiência, pois, como será lembrado, ele foi inocentado de todas as acusações pelos tribunais. Vale lembrar que em 2018, Lula não pôde concorrer às eleições presidenciais devido a uma lei que proíbe a participação de um funcionário condenado por corrupção. No início de 2022, no entanto, o Supremo Tribunal Federal anulou as condenações contra o ex-presidente e reconheceu que o juiz Sergio Moro pressionou os promotores contra Lula. Moro mais tarde se tornaria ministro da Justiça com Bolsonaro e renunciaria apenas alguns meses depois.
A saída de Lula abriu caminho para o sucesso de Bolsonaro, mas agora, quatro anos depois, os cenários podem ser marcadamente diferentes. As pesquisas devem ser feitas cum grão sujo mas, pelo menos segundo os mais abalizados, Lula teria uma vantagem significativa sobre o atual presidente. Para tornar essas pesquisas mais credíveis do que o habitual, há, no entanto, uma popularidade, a de Bolsonaro, que vem diminuindo nos últimos meses, tanto por uma gestão da pandemia que não é francamente idílica, quanto por uma forma muito centralizada de gerenciar a política . que causou um grande número de demissões entre os ministros. Um exemplo acima de tudo é o do ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, considerado muito próximo de Bolsonaro. Escusado será dizer que Lula poderia agregar atrás de si um grupo composto, desde aqueles que lutam pela proteção dos territórios das populações indígenas na Amazônia e se opõem à liberalização das armas, até aqueles que dão atenção especial aos direitos sociais e civis e trabalhar pela inclusão social.
Em suma, Lula pode tentar voltar à cena aproveitando sua história recente que o viu enfrentar mais de 500 dias de prisão e obter a absolvição completa de todas as acusações. Muitas das massas populares que votaram em Bolsonaro podem agora premiar o grande retorno de Lula que, por sua vez, parece ter ideias muito claras. O ex-presidente também falou abertamente sobre planos ambiciosos que vão muito além do Brasil; pense, por exemplo, em sua recente proposta de criar uma moeda única para a América Latina: “Se Deus quiser, vamos criar uma moeda na América Latina para que não tenhamos esse problema de dependência do dólar”, disse. uma conferência do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL; esquerda). Também nesta ocasião, criticou duramente o judiciário e o parlamento, sublinhando o perigo de uma influência cada vez maior da justiça na política: “parece que tudo se decide no Supremo. Não pode ser assim. Os políticos não podem querer que a justiça faça o que tem que fazer”.
Como dissemos inicialmente, no entanto, as eleições presidenciais de 2022 terão significado global, pois o Brasil é de fato uma potência global líder. Um dos grandes sonhos de Lula sempre foi, por exemplo, construir uma “ponte” entre os dois lados do Atlântico. O ex-presidente viajou para a África várias vezes, doze para ser preciso, e teve inúmeras reuniões de alto nível com os líderes políticos do continente durante sua experiência política. O “universo português” refere-se à “Lusofonia”, termo comumente alusivo a um espaço geograficamente e culturalmente composto em que o português é a língua oficial. O universo lusófono inclui oito países: Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor Leste. Destes países, apenas dois têm o português como língua oficial e estes são Portugal e Brasil. Em 2003, em São Tomé, Lula abriu uma missão diplomática, o que não é por acaso, pois é o último dos sete países de língua portuguesa a ainda não ter uma. Esse ativismo de Lula na África tem sido interpretado por muitos analistas como uma tentativa, não muito escondida, de construir uma “ponte” entre os dois lados do Atlântico.
E agora esse papel de “ponte”, congelado pelos parênteses de Bolsonaro (que talvez nem seja), pode voltar a ser relevante caso Lula vença as eleições presidenciais. A ambição de Lula seria fazer avançar o papel do Brasil na contribuição para o desenvolvimento de uma forma muito diferente da dos países ocidentais. Lula conseguiu, assim, conquistar a simpatia do continente africano e o fez buscando relações bilaterais nos mais diversos campos: da saúde à educação e passando pela agricultura. Segundo muitos, Lula poderia inaugurar uma nova era da chamada cooperação Sul-Sul dos países do BRICS, ou seja, uma Parceria entre pares, consistindo em um compartilhamento mútuo e troca de soluções-chave para o desenvolvimento entre os países do Sul. Em suma, Lula parece ser a pessoa certa na hora certa para trazer o Brasil de volta ao outro lado do Atlântico.
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