Demasiados turistas, salários baixos e rendas caras: o problema da habitação em Portugal

O Porto, uma das cidades mais turísticas da Europa, bloqueou a concessão de licenças de arrendamento de curta duração em determinadas zonas da cidade. A UE também propôs novas regras nesta área.

Milhões de pessoas visitam o Porto todos os anos. O turismo representa uma parte importante da economia local, mas existe uma linha tênue entre o turismo sustentável e a superpopulação turística. Em Abril passado, dezenas de milhares de pessoas protestaram em todo o país contra a crise imobiliária.

Uma crise desencadeada pelo investimento estrangeiro no sector imobiliário, pelos baixos salários, pela falta de novas habitações acessíveis e agravada pelos alugueres de férias que corroem o parque habitacional. A associação local Habitação Hoje! coleta depoimentos de moradores.

“Todos os dias ouvimos casos de pessoas que vivem em casas sobrelotadas: ouvimos histórias de 10 a 15 pessoas que vivem em apartamentos minúsculos, frios, húmidos ou insalubres”, explica Helena Souto, um dos membros da associação.

Para Helena, o principal problema reside nas habitações sociais vazias e na gentrificação dos bairros: a maioria dos apartamentos são alugados a curto prazo. “A cidade foi pensada para pessoas que podem pagar preços mais altos – diz Helena -. Então, turistas, nômades digitais ou pessoas que vêm fazer negócios.”

Uma cidade para nômades digitais

Em Portugal, verifica-se um aumento do número de nómadas digitais, a quem o país oferece vistos. Para os activistas, tudo isto só irá piorar a crise. Mas as agências que alugam alojamentos de curta duração e oferecem espaços de coworking não veem problema. “Estas pessoas fazem parte da comunidade local – explica Rui Santos, gestor de comunicação da Feel Porto, agência que aluga alojamento na cidade -. Frequentam o comércio, vão aos restaurantes e ao supermercado. Contribuem assim para a economia local.

O Porto introduziu regras que lhe permitem congelar as licenças de aluguer de curta duração, uma novidade em Portugal. “Criámos dois tipos de zonas na cidade – explica Ricardo Valente, vereador das Finanças, Economia e Emprego -. Zonas sustentáveis, onde é possível obter novas licenças, e o que chamamos de zonas restritas: nestas zonas, se houver muita pressão, não é permitido obter uma nova licença”.

Novas regras em toda a Europa

Tornar o turismo mais sustentável é um problema que preocupa toda a Europa. A Comissão Europeia propôs novas regras para recolher e partilhar dados sobre arrendamentos de curta duração, para melhor compreender quem fica onde e por quanto tempo.

Todos os anfitriões e proprietários terão de seguir os mesmos procedimentos de registo online e terão um número de identificação único – uma medida para combater os alugueres ilegais de curta duração. “Esta nova regulamentação europeia é muito importante para nós, porque fornece uma das coisas mais importantes: a informação – diz Valente -. Muitos dos problemas que vemos na gestão de alugueres de curta duração são a forma como estas plataformas escondem informações. Para nós é muito importante ter as mesmas regras para todos: o que é legal offline tem de ser legal online e o que é ilegal offline tem de ser legal online.

Leigh Everille

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