A cimeira UE – América Latina e Caraíbas (CELAC) começou ontem em Bruxelas, uma tentativa europeia de fortalecer a aliança com o Novo Mundo. “A celebração da cimeira, depois da anterior há oito anos, já é um sucesso”, disse Javi López, socialista espanhol, co-presidente da Assembleia Parlamentar Euro-Latino-Americana, ao Manifesto.
A manhã é dedicada aos negócios. O Lula do Brasil, o primeiro-ministro espanhol Sánchez e a presidente da Comissão Europeia, Von der Leyen, reúnem-se com banqueiros de bancos de desenvolvimento e CEOs de grandes empresas. A Europa anuncia 45 mil milhões de euros em investimentos, sob a égide do portal Eu-Lac Global. Financiamento ligado à transição verde, transformação digital, produção de vacinas. Os investimentos, impulsionados por grandes empresas, são a ferramenta da política externa europeia para recuperar o terreno perdido na América Latina. E vencido por Pequim, cujas importações da região superam a soma das da Europa e dos Estados Unidos.
ELE INAUGURA À TARDE a cimeira política. Mas o diálogo ocorre num nível assimétrico. A UE fala a uma só voz. Já a Celac é apenas um mecanismo de diálogo cujo peso depende do ciclo político. A presidência pro tempore vai para São Vicente e Granadinas, um estado insular de cem mil habitantes no Caribe. A Celac se recuperou do declínio graças ao retorno de Lula e do Brasil, que havia abandonado o grupo. “A América Latina é uma prioridade europeia para sair do seu isolamento no Sul do mundo. A Europa deve jogar todas as suas cartas, tanto no diálogo com a Celac como com os vários países latino-americanos”, diz-nos Carlos Malamud, do Real Instituto Elcano. E é precisamente com a ideia de jogar todas as cartas que um acordo bilateral a cimeira entre a UE e a Caricom (União dos Países das Caraíbas) terá lugar na tarde de segunda-feira.
“Bem-vindo a Bruxelas, sede da NATO. Trabalhamos pela paz, segurança e liberdade”, assegura um cartaz 6×3 no aeroporto de Bruxelas. Bandeiras ucranianas tremulam nos edifícios burgueses do distrito de Schaerbeek. De manhã, os funcionários públicos de Bruxelas entram rapidamente na sede da UE com alfinetes amarelo-azulados afixados suas jaquetas.
SOBRE APOIO À UCRÂNIA a força da aliança entre as duas regiões pode ser medida. Quase todos os países da CELAC na ONU votaram pela condenação da invasão russa (com exceção do voto contra da Nicarágua e das abstenções de Cuba, El Salvador e Bolívia). Mas depois recusaram enviar armas para Kiev, aprovaram sanções contra Moscovo e rejeitaram a possibilidade da participação do presidente ucraniano Zelensky na cimeira.
Lula, em seu discurso vespertino com chefes de estado e de governo, tentou a mediação: “Seguimos a linha da Carta das Nações Unidas: recusa da força para resolver disputas. Apoiamos iniciativas que visam a cessação das hostilidades e negociações de paz. As autoridades europeias garantem que estão a trabalhar no texto da declaração final, expressando a sua solidariedade para com Kiev.
Fora dos edifícios europeus, nas salas de aula da Universidade Livre de Bruxelas, realiza-se o Cumbre de los Pueblos, uma contra-cimeira de movimentos sociais e partidos de esquerda das duas regiões. Centenas de participantes, sendo Cuba e Venezuela os países mais representados. Pela Itália, Don Mattia Ferrari, trinta anos, capelão da ONG Mediterranea, denuncia a situação dos migrantes no Mare Nostrum. Falamos sobre os efeitos do bloqueio sobre Cuba e ativistas ambientais partilham estratégias de combate.
“EXTRATIVISMO é o detonador da violência em nossos territórios, onde se consolida a aliança entre empresas e grupos de segurança privada”, declara Maria José, ativista colombiana contra as atividades poluidoras da multinacional mineira AngloGold Ashanti. painéis solares e turbinas eólicas, em linha com a transição verde. Mas no meu país, todos os anos, morrem 40 crianças por causa da poluição”, conclui. O ambiente é alegre, festivo e envolvente, “Mélenchon e Corbyn também chegarão”, entusiasma-se Claudio Marotta, conselheiro regional da Aliança dos Verdes e da Esquerda no Lácio.
Cartazes dão as boas-vindas a alguns líderes latino-americanos em Cumbre. As boas-vindas também estão reservadas ao Presidente da Nicarágua, Daniel Ortega. Que reprimiu os protestos populares, governou com o favor do grande capital, retirou a cidadania a quem criticava a sua família, prendeu um bispo, expulsou a Cruz Vermelha Internacional, como noticiou Gianni Beretta neste jornal. Ele também é bem-vindo?
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