MADRI. Tudo no espaço de algumas horas. Ao pequeno-almoço, os portugueses foram surpreendidos com a notícia de que figuras governamentais estavam a ser investigadas por alegadas irregularidades em projetos de lítio e hidrogénio verde. E depois do almoço ficaram sem primeiro-ministro. Firmemente no comando do país desde 2015, o líder socialista Antonio Costa renunciou assim que soube que seu nome também aparecia no caderno dos investigadores, embora tenha se declarado não envolvido nos fatos. “As funções de primeiro-ministro são incompatíveis com qualquer suspeita sobre a sua integridade”, afirmou. Começa uma crise política inesperada para Portugal.
No ano passado, Costa iniciou o seu terceiro mandato como primeiro-ministro, o seu primeiro a solo depois de vencer as últimas eleições parlamentares por uma vitória esmagadora. Porém, já há algum tempo, a imagem do seu governo vinha sendo prejudicada por certas polêmicas que acabaram no centro das polêmicas. No entanto, o que começou ontem de manhã parece ser um terramoto político de uma escala completamente diferente, que ocorre também nas vésperas do Congresso dos Socialistas Europeus em Málaga (10-11 de Novembro).
O sismo foi desencadeado por diversas buscas ordenadas pela Procuradoria-Geral e realizadas na residência oficial de Costa e noutros locais públicos e privados. Cinco pessoas foram algemadas, incluindo o chefe de gabinete do primeiro-ministro Vítor Escaria. Também na lista de suspeitos está o ministro das Infraestruturas, João Galamba.
No centro das suspeitas estão os contratos de extração de lítio das minas do norte de Portugal, bem como os planos de construção de uma central elétrica e de um data center na cidade de Sines. O Ministério Público contesta os crimes de “peculato, corrupção ativa e passiva de responsáveis políticos e tráfico de influência”. E explica que “alguns suspeitos mencionaram o nome do primeiro-ministro”, nomeadamente no que respeita às “suas intervenções para desbloquear o procedimento neste sentido”. O Supremo Tribunal vai agora investigar Costa. “Quero dizer aos portugueses, olhando-os nos olhos, que nenhum ato ilícito pesa na minha consciência”, declarou o primeiro-ministro demissionário em direto na televisão, dizendo também estar “totalmente disponível para colaborar”.
Pouco antes, o líder socialista tinha visitado duas vezes o Presidente da República, o conservador Marcelo Rebelo de Sousa. Uma vez aceite a sua demissão, o chefe de Estado convocou uma série de consultas com os partidos, anunciando que iria “falar com o país” assim que as mesmas fossem concluídas. Como ele explica A impressão Luca Manucci, investigador do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, Portugal, caminha para o cenário de um governo interino provavelmente até eleições antecipadas. Neste caso, não se pode excluir uma ascensão dos actuais partidos da oposição, o tradicional PSD de centro-direita e o Chega, de direita radical. “Como já foi demonstrado em contextos regionais, o PSD talvez não tenha grandes dificuldades em aliar-se ao Chega, se esta for a fórmula mais exequível”, afirma.
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