Portugal, o cantinho da Europa onde a esquerda ainda está em voga

Portugal está confirmado um dos poucos cantos da Europa onde a esquerda ainda está na moda. O Partido Socialista do primeiro-ministro Costa, que há quatro anos lidera uma invulgar coligação (aqui chamam-lhe “geringonça”, que pode ser traduzido como “superlotado” ou “desordem”) entre a esquerda e a extrema-esquerda, conseguiu para tirar o país das bancadas de um provável calote, venceu as eleições legislativas com 36,7% dos votos, conquistando 106 assentos, 20 a mais que em 2015, mas 10 a menos do que o necessário para garantir a maioria absoluta. O Bloco de Esquerda (Bloco de Esquerda, BE) está substancialmente estável, acreditado com um resultado que deverá fixar-se pouco abaixo dos 10% (limite atingido em 2015), enquanto a CDU perde alguns pontos (aos 6,50%) (Coligação Democrática Unida, formada por comunistas e verdes). Uma maioria que, se confirmada, poderia contar com uma margem muito ampla.

Mas não está claro se Costa o apresenta como ele é, devido aos atritos com o BE nos últimos meses. Olhamos com atenção para o resultado do PAN, o partido ecologista-animalista nascido sob o impulso do movimento inspirado por Greta Thunberg: nas eleições europeias tinha levado 5%, a contagem para o momento aponta para pouco mais de 3%. Mas é na frente da oposição que se registam os desmoronamentos mais sensacionais. A começar pelo principal partido de centro-direita (curiosamente chamado aqui de Partido Social Democrata, PSD), com queda de mais de 8% (27,9%, o pior resultado desde 1983) em relação às políticas de 2015, quando ainda era o partido mais votado . E ao mesmo tempo o Centro Social Democrático – Partido Popular (CDS-PP), estimado hoje em 4,2% (em 2015 era aliado do PSD), enquanto a extrema-direita está a afundar (outra anomalia face ao resto da Europa) , com o novo partido populista Chega (em português que significa “Chega”) que recolhe as migalhas, apenas 1,3%.

Primeiro-Ministro Costa: “Os portugueses adoram ‘geringonça'”

Um resultado incontestável, que reforça a posição de António Costa: “É uma conquista histórica. O Partido Socialista venceu claramente esta eleiçãoe reforçou a sua posição política”, declarou o Primeiro-Ministro comemorando o resultado das urnas. “Os portugueses querem um novo governo socialista mais forte e capaz de governar com estabilidade.” Um resultado que no entanto obrigará Costa a encontrar alianças e novos equilíbrios: “Os portugueses adoram “geringonça”“, comentou mais tarde. “Estamos a tentar com os nossos parceiros parlamentares encontrar as soluções políticas que os eleitores portugueses têm demonstrado apreciar”. Enquanto Rui Rio, líder do PSD, obviamente temia um resultado bem pior, a ponto de declarar, após as primeiras urnas: “Esta votação não é a catástrofe iminente. Demos um passo em frente para reconquistar a confiança dos portugueses.”

A afluência foi de 54,5%, um ligeiro decréscimo face a 2015. E na véspera da votação entendeu-se que a abstenção poderia ter aumentado ainda mais, ao ponto de o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, ter sentido a necessidade lançar um apelo público aos eleitores: “Não votar é delegar a outros uma decisão que nos cabe. Por convicção, confiança, rejeição, realismo, exclusão de partidos: sejam quais forem as suas convicções, não desista de votar amanhã”, declarou. Mas nas palavras do Presidente de Sousa há também uma característica política, que diz respeito à situação econômica do país, que não deve ser negligenciada: “O meu renovado apelo aos portugueses é que percebam que os próximos quatro anos serão difíceise que cabe aos portugueses mostrar que estão atentos à Europa e ao mundo”. O Chefe de Estado falou da incerteza causada pelo Brexit e das repercussões da crise internacional na economia portuguesa. têm de apostar em mais crescimento, mais emprego, no combate à pobreza e às desigualdades entre as pessoas, superando os efeitos negativos da diminuição da natalidade e do envelhecimento da população”.: A União Europeia estima que em 2100 a população de Portugal caia para 6,6 milhõesdos atuais 10,3 milhões.

Milagre em Lisboa

Não há dúvida de que o primeiro-ministro Costa realizou até agora meio milagre. Alguns o elogiam por suas habilidades como negociador político, enquanto outros o acusam de ser frio e calculista.. Portugal estava a um passo do abismoapresenta agora um dos indicadores mais positivos de toda a União Europeia. No biênio 2016-2018, a economia cresceu quase 7%, enquanto o PIB ainda deverá crescer 2% este ano (foi de 0,19% em 2014). O déficit público está em 0,5% do PIB. A taxa de desemprego, que era de 16% antes da posse de Costa, caiu para 6,2%. O salário mínimo foi aumentado. Resultados obtidos em pleno acordo com a União Europeia, que de certa forma premiou Portugal, com o Ministro das Finanças, Mário Centeno (definido por Wolfgang Schauble, ex-ministro das Finanças alemão, o “Cristiano Ronaldo do Ecofin”), nomeado Presidente do Eurogrupo. Entre as chaves utilizadas por Costa, além do turismo, destacam-se sobretudo as exportações, que hoje representam cerca de 60% do PIB.

“Portugal precisa de mais migrantes”

Mas os próximos quatro anos serão cruciais para apoiar o desenvolvimento económico e social do país, para o tornar mais autónomo e menos vulnerável às variáveis ​​externas (riscos muito elevados em caso de subida das taxas de juro). Pedro Videla, economista da Iese Business School, explicou ao Il Sole 24 Ore quais devem ser as prioridades do próximo governo: “Aumentar o investimento público, fortalecer o sistema bancário, sustentar o sistema previdenciário. A longo prazo, aumentar a produtividade, melhorar os dados sobre a educação e formação dos cidadãos, reduzir as desigualdades sociais evidentes, gerir o envelhecimento da população e a migração“. E aqui está outra anomalia, todos portugueses: migrantes não são vistos como ameaça, como acontece praticamente em todos os cantos da Europa, graças também à propaganda incessante de forças de extrema direita, muitas vezes imitadas e perseguidas no assunto por líderes de esquerda que vivem com medo de perder seu apoio. Em Portugal (também por razões históricas e culturais), os estrangeiros são considerados e acolhidos como “portadores de oportunidades económicas num país cada vez mais velho e que precisa de trabalhadores jovens”, como escreve o Post, lembrando que o próprio primeiro-ministro Costa nasceu em Maputu, Moçambique, ex-colónia portuguesa em África, e é filho de um indo-português da cidade indiana de Goa. O próprio Costa, durante a campanha eleitoralcriticou abertamente os ‘modismos anti-imigração’. “Não vou tolerar retórica xenófoba. Portugal precisa de mais imigração e de mais gente a trabalhar para o nosso país”. A política de desoneração fiscal também vai nesse sentido: imposto zero para aposentados estrangeiros que optarem por lá fixar residência, como muitos italianos bem sabem.

Beowulf Presleye

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